sábado, 5 de novembro de 2011
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
pOeMa À bOcA fEcHaDa ...
não direi:
que o silêncio me sufoca e amordaça.
calado estou, calado ficarei,
pois que a língua que falo é de outra raça
palavras consumidas se acumulam,
se represam, cisterna de águas mortas,
ácidas mágoas em limos transformadas,
vaza de fundo em que há raízes tortas.
não direi:
que nem se quer o esforço de as dizer merecem,
palavras que não digam quanto sei
neste retiro em que me não conhecem.
nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
nem só animais boiam, mortos, medos
túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
no negro poço de onde sobem dedos.
só direi,
crispadamente recolhido e mudo,
que quem se cala quando me calei
não poderá morrer sem dizer tudo...
((José Saramago))
não direi:
que o silêncio me sufoca e amordaça.
calado estou, calado ficarei,
pois que a língua que falo é de outra raça
palavras consumidas se acumulam,
se represam, cisterna de águas mortas,
ácidas mágoas em limos transformadas,
vaza de fundo em que há raízes tortas.
não direi:
que nem se quer o esforço de as dizer merecem,
palavras que não digam quanto sei
neste retiro em que me não conhecem.
nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
nem só animais boiam, mortos, medos
túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
no negro poço de onde sobem dedos.
só direi,
crispadamente recolhido e mudo,
que quem se cala quando me calei
não poderá morrer sem dizer tudo...
((José Saramago))
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